E se...?
Que a comunicação social é a profeta da desgraça e sedenta
de sangue para aumentar as suas audiências, já todos sabemos, mas ultimamente
parece que essa sede aumentou.
É o regresso do escudo que pode vir aí, é a revolta social
que pode surgir a qualquer instante... Tudo em nome da “informação” (polémica,
claro está, porque somos o país da polémica).
Pouco falta para as tv’s abrirem os seus serviços noticiosos
com frases do género “portugueses, saiam à rua e partam tudo o que encontrarem
pela frente que nós lá estaremos com um directo para mostrar a todo o país a
revolta popular espontânea”.
Cada vez mais a “não notícia” vai surgindo em substituição
da “notícia real”, aquela que realmente acontece mas na qual não vale a pena
gastar muitos minutos, pelas mais variadas razões.
Em nome do “público que merece ser informado”, vamos ouvindo
cada vez mais histórias que começam com um “E se...” seguido da super tragédia
hipotética que será acompanhada de vários “directos” com as entrevistas
inteligentes do costume ao cidadão comum, com pérolas como “Se a situação x
vier a acontecer isso preocupa-o?”.
Tudo isto será concluído com um painel de comentadores à
medida que nos irão informar de como seriam as nossas vidas caso esse cenário
se concretizasse.
Seja qual for agora a história da moda, esta brevemente irá
passar ao esquecimento para que outra futura provável desgraça seja também
amplamente discutida.
E para que não caiamos no aborrecimento e monotonia, as “não
notícias” vão sendo intercaladas de vez em quando com uma aulinha de “iniciação
ao crime” que nos mostre detalhadamente como arrombar uma caixa MB, roubar
cobre ou outra coisa do género...porque afinal de contas, se as histórias não
acontecem, há que ensinar as pessoas para que elas venham a acontecer.
Aguardemos então pela próxima tragédia. Seja ela qual for,
uma coisa é certa: Pode vir a acontecer... ou não.
RMS
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