Aborto

Sempre que penso neste tema, vem-me um turbilhão de ideias confusas para as quais não consigo obter respostas.

A pergunta é:

Deve-se ou não liberalizar o aborto?

por outras palavras:
Deve-se ou não condenar uma mulher a 3 anos de prisão por fazer um aborto?
E ainda por outras palavras:
Deve-se ou não condenar uma mulher a 3 anos de prisão por matar o filho?

Ao ler esta ultima frase fico chocada. Provavelmente quem já praticou um aborto também ficaria, mas é esta a mensagem que os que lutam pelo direito à vida querem enviar. Uma mulher ao fazer um aborto está a matar. O que não deixa de ser verdade. Um embrião com 1 semana é um ser vivo, senão não se desenvolveria.

Com este argumento eu diria que sim, a mulher deveria ser presa por assassinato.

Mas depois vem a pergunta:

Porque razão estas mulheres fazem um aborto?
A resposta é obvia: Não querem ter este filho.

Mas depois vem outra pergunta:

Porque é que não querem ter o filho?
Aqui a coisa complica-se. Existem n factores que levam a uma mulher querer abortar: Violação e feto com deficiência não se aplica porque aqui o aborto é legal, por isso resta-nos:

Condições financeiras
Condições psicológicas
Falta de informação

Condições financeiras:
Neste item encontramos pessoas que se encontram com dificuldades para criar um filho, que como todos sabemos, em termos económicos, um filho não passa de uma mensalidade que cresce todos os meses. Provavelmente esta criança teria que abandonar a escola cedo e antes disso como não havia dinheiro para creches ou amas, acabariam com uma vizinha que fazia o favor de olhar por ele. Certamente lhe faltaria conforto e estabilidade, mas acredito que os senhores que lutam pelo direito á vida iriam acompanhar esta criança e dar-lhe o direito á vida de criança.

Neste item também acuso o facto dos anti-conceptivos serem demasiado caros. Deveriam ser praticamente um bem essencial. E se trocam seringas aos drogados nas farmácias porque não trocam preservativos usados?! E já agora a associação abraço que luta contra a sida em vez de andar a vender lacinhos como recolha de fundos, porque é que não vende preservativos??

Condições psicológicas:
Neste item encontramos pessoas que estão perturbadas psicologicamente e que um filho não vinha ajudar em nada. Quem não consegue tomar conta de si própria não iria conseguir tomar conta de uma criança, onde acabaria por ser "abandonada" de carinhos e cuidados que todas as crianças necessitam. Mas acredito que os senhores que lutam pelo direito á vida iriam acompanhar esta criança e dar-lhe o direito á vida de criança.

Falta de informação:
Para mim este item diz tudo. As pessoas não são informadas. Culpo os médicos, centros de saúde e comunicação social.

Os médicos porque só falam em sexo com os seus utentes caso seja uma consulta de planeamento familiar. Treta, muitas pessoas nem sabem o que isso significa, e 5 minutos a explicar como poderão evitar ter filhos não custa nada. Existem vários tipos de anti-conceptivos, mas a verdade é que normalmente só se ouve falar no preservativo como forma de prevenir a sida. Podiam também explicar que evita engravidar, mas assumem que as pessoas já sabem. Outra culpa para os médicos, quando receitam um antibiótico a uma mulher ou ela se queixa de diarreia não lhes dizem que qualquer uma destas coisas anula o efeito da pílula pelo menos por 2 meses.

Os Centros de Saúde deviam ter afixado não só os dias que o médico de família vai faltar mas também inúmeras informações de precauções a doenças e inclusive os vários anti-conceptivos, pedindo aos utentes que peçam conselho ao seu médico.

A Comunicação Social, ou melhor as revistas cor-de-rosa esforçam-se para mostrar as 10 melhores formas de sedução, as 5 posições que os levam á loucura, aquele petisco afrodisíaco, mas formas de evitar que essa excitação toda se torne em noites mal dormidas após 9 meses, está quieto. É necessário informar as pessoas que não é difícil evitar um filho. Expliquem com bonecos sem pudor como se utilizam. Por exemplo os preservativos que andam muito tempo numa carteira acabam por se deteorizar e quando vão ser usados já podem ter pequenos buracos. Falam nos efeitos negativos que a pílula do dia seguinte pode causar, mas será que são assim tão maus ao ponto de não se evitar uma gravidez?

É claro que toda a responsabilidade é da mulher, ela é que pode engravidar e por isso tem o dever de estar informada, mas como em tudo na vida uma ajudinha é sempre bem vinda, e se ouvimos tanto dizer se beber não conduza, porque não, se não quer um filho use o preservativo?!.

Não acredito que o facto de ser punido por lei o factor aborto deixe de existir. Acredito também que quem o faça não é de ânimo leve pois conhecem os riscos. Por isso o meu voto é para a liberalização, mas acima de tudo deviam informar mais as pessoas, deviam obrigá-las a ouvir, deviam ensinar nas escolas, os médicos deviam ter a preocupação de educar os seus pacientes e a comunicação social devia, pelo menos de vez enquando, servir o interesse publico.

Comentários

Neuronio disse…
Bom meus amigos... Este se não é um dos temas mais polémicos do neurónio, anda lá perto.

Há muito que dizer sobre o aborto, e pouco se fala. Faz-me confusão fazer referendos, tanto para este assunto como para outros importantes, por dois motivos:

1) Que eu saiba, foi eleito um governante, cuja função é tomar decisões (mesmo as mais complicadas). Não o vejo a fazer referendos sobre o aumento de impostos. Acho que é apenas "folclore" criando uma falsa sensação de poder e decisão na população.

2)Como já referi num post anterior, em nada relacionado com o aborto, não sei até que ponto as pessoas estarão devidamente informadas para votar num referendo, seja lá ele qual for. Só se ouvem conversas e "debates" (alguns, uma verdadeira "peixeirada") com uns a favor e outros contra, mas ninguém com frieza suficiente para falar num meio termo, e mais importante que isso... numa linguagem clara e acessivel.


Em relação a alguns pontos deste texto, tenho que dizer que discordo no seguinte:

- Falta de informação

Se é verdade que não ache que as pessoas estão devidamente informadas para votar num referendo, também é verdade que, na minha opinião, que qualquer pessoa com um bocadinho de cérebro sabe como fazer um filho. Não é exactamente "fisica quântica".

E não me venham dizer que por ex os "jovens" não sabem isso, que para aquilo que eles querem, arranjam maneira de saber, porque hoje em dia o que não falta são fontes de informação (Internet, por ex?). Agora, podem é dizer que "são jovens e não pensam", ou seja, fazem as coisas e deixam as consequências para outro dia. Isso é outra história. Depois tomam pílulas do dia seguinte como se fossem "smarties" e um dia têm o organismo todo desregulado.

- Questões monetárias

COncordo sim que, se dão seringas aos drogados, também deviam dar preservativos e contraceptivos. Agora por mais baixo rendimento que uma pessoa tenha, não acredito que não seja capaz de gastar dois euros e tal para se "proteger" meia dúzia de vezes. E mesmo quem não tem ordenado, como por ex os jovens, que são capazes de gastar 20 ou mais euros numa saída à noite, não tem dinheiro também para se prevenir.

Acho também que os nossos governantes em vez de estarem a dar dinheiro ás pessoas para fazerem cirurgias puramente estéticas (e não devido a complicações de saúde), deviam era canalizar essas verbas para campanhas mais agressivas por ex, e / ou melhores clinicas e hospitais.

Informem sim as pessoas devidamente deste assunto e de outros, e deixem-se de "espectáculo" com referendos que não servem para nada, especialmente quando há elevadas taxas de abstenção.

Para concluir, penso que faz falta mais bébés neste mundo. A população precisa de jovens urgentemente, não só no nosso país, mas a nivel mundial também. Mas acho que mais vale não trazer uma criança ao mundo, que traze-la para viver em condições de miséria (fisica e psicológica), ou perto disso.

Tomem coragem e decidam alguma coisa. Não percam tempo e dinheiro.

RMS
Neuronio disse…
Bom, em relação a eu ser informático e os outros não, não acho que seja desculpa. Hoje em dia há informação. As pessoas é que não querem saber, porque "só acontece aos outros".

Claro que não digo que não deva haver campanhas mais agressivas de prevenção. Deve haver sim, mas não acho que a falta dessas campanhas deva servir de pretexto para não saber que sexo pode vir a dar um filho. Até miudos na escola sabem disso.

E quanto a ser a "coisa mais natural" do mundo os jovens gastarem 20 eur numa saida nocturna e não gastarem em prevenção só prova o meu ponto de vista. Não querem saber, e depois queixam-se da "falta de informação".

É como no alcool. Acho que qualquer pessoa que veja outra alcoolizada, vê bem os maleficios da bebida em excesso. Mas como "só acontece aos outros", não quer saber. Não é por falta de informação.

O estado realmente deve intervir mais neste, e em outros assuntos importantes da nossa sociedade, mas não podemos esperar que sejam o nosso "anjo da guarda".

A cabeça não é só para deixar crescer cabelo.

RMS
Anónimo disse…
Eu axo que é um meio termo. Por um lado axo que o governo e as organizações não governamentais não se esforçam o suficiente (às vezes não deixam) para informar as pessoas. Axo também que o estamos a restringir o problema ao "jovens" quando se calhar eles são uma percentagem das pessoas que fazes abortos. O problema ocorre em faixas etárias mais elevadas. Aí ainda posso admitir qua não exista tanta informação, principalmente a pessoas numa faixa etária mais elevada (com escolaridade reduzida) e que vivam afastados dos grandes centros populacionais, onde inmpera uma "lei" diferente (a religião aí tem uma força muito grande que por vezes é mais lei que a lei e as pessoas são moldadas, ainda, nessa mentalidade peregrina).

Existem elementos que de facto não sabem porque nao foram ensinados (aquelas "pérolas" que se conhecem das revistas tipo "Maria" não são obra do acaso, são gritantes faltas de informação). Estes sim devem ser ensinados.

No entanto nas faixas etárias mais jovens, principalmente naquelas que vivem nos grandes centros populacionais, também existe muita negligência. Muita malta jovem pura e simplesmente faz agora e pensa depois. Não digo que a culpa seja unicamente deles, pois o sexo hoje em dia é a imagem de marca. O sexo vende. Os media estão inundados de imagens sugestivas, puramente sexuais...o sexo é para ser fácil, é prazer, sem consequências. É nas roupas (existem prostitutas que se vestem menos "hardcore" do que muitas miudas hoje em dia levam para a s aulas), é na música (o hip-hop com o 50 cent e as suas b-atchs), é em todo o lado. Qualquer dia teremos a barbie Sado-Masoquista ou qqer coisa assim. Mas para o que eles querem eles aprendem. Eles aprendem a fazer coisas que nem lembram ninguém, gastam dinheiro para tudo e mais alguma coisa. Só não gastam num preservativo ou numa caixa de pílulas pq não querem. Essas pessoas são informadas, sabem como se fazem bebés, como os prevenir, mas ainda assim deixam que isso aconteça.

O que eu quero dizer é que axo que é um meio termo das questões. Por um lado há muitas pessoas informadas que estão a lixar-se para isso, pq "só acontece aos outros". Não é válido fazer da maioria, jovens e não jovens, uns coitadinhos que não sabem como se fazem bebés e não têem culpa.

Uma nota para dizer que axo que o referendo é areia para os olhos dos portugueses. Axo que não havia necessidade disto. É para destraír as pessoas. Havia decisões mais importantes a fazer por referendo que não se fazem e esta decisão já poderia ter passado à muito tempo na "casinha da política". Isso é para nos destraírmos do resto da porcaria que se anda a fazer e para gastar mais um bocadinho de dinheiro dos contribuintes, para depois apertarmos mais um buraco no cinto e para dar trabalho às agencias de publicidade e de sondagens.

Noutra nota axo que os preservativos deviam ser mais baratos. É uma vergonha que uma caixa de 3 preservativos naquelas maquinas automaticas das farmácias custe 2, 3 euros! Deviam ser mais baixos, não grátis! Grátis estraga tudo. Quanto à troca de preservativos nas farmácias, isso parece algoi nojento não?

LFG

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